O
estudante de escola pública João Vitor dos Santos, que foi notícia
nacionalmente após excelente resultado na prova de múltipla escolha do
Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) em 2014, não conseguiu vaga na
Universidade Federal do Ceará (UFC). A informação foi confirmada pela
direção da escola estadual Governador Adauto Bezerra, em Fortaleza.
Mesmo
sendo estudante do 2º ano do Ensino Médio, João Vitor conseguiu
acertar 172 das 180 questões, o equivalente a 95,5% do total da prova.
Como comparativo, o menino ultrapassou os 164 acertos da estudante mineira
Mariana Drummond, que conquistou o primeiro lugar no exame em 2013. Apesar do
resultado, o jovem de 16 anos não atingiu a meta exigida para cursar Ciências
Biológicas na UFC.
“A
nota da Redação foi muito baixa. Ele conseguiu vaga para estudar em Alagoas,
mas não quis ir para lá”, conta o diretor da escola, Otacílio Bessa. João Vitor
já havia informado que o desempenho na prova não seria tão bom, por considerar
a avaliação a mais difícil. “Ele sabia que seria difícil, mesmo assim
ficou meio depressivo quando viu o resultado”, confidencia.
João Vitor sempre estudou em escolas públicas
e revelou, em entrevista na época, que sua estratégia de estudo foi
se adaptar à leitura, ler livros extensos e alguns com linguagem
rebuscada. Sua ficha da biblioteca na escola contém mais de 40 exemplares
lidos. Desde o anúncio de seu resultado, ele preferiu não falar mais com a
imprensa.
Morador
do Bairro Vila União e o quarto de cinco irmãos, João Vitor agora cursa o 3º
ano do Ensino Médio, ainda sonha em viajar para o Reino Unido pelo
programa Ciências Sem Fronteiras e fazer especialização em bioquímica
ou biologia molecular, relata Otacílio. O destino ainda não teve ponto
final. E João Vitor pretende escrevê-lo com centenas de exclamações. “Nós
acreditamos nele”, finaliza o diretor.
Redação
no Enem
A prova
de redação do Enem 2014 teve como tema “Publicidade infantil em questão no
Brasil”. A correção é feita por duas pessoas, de forma independente. Se houver
discrepância entre as notas dos corretores por mais de 100 pontos, a redação
vai para um terceiro corretor. A nota máxima da prova é de 1.000 pontos. A
direção da escola Adauto Bezerra preferiu não divulgar a pontuação do
estudante.
Segundo
Myrson Lima, professor de curso de Redação em Fortaleza, a redação no Enem é
atípica, diferente da avaliação nos vestibulares tradicionais. “O texto tem de
ser dissertativo-argumentativo. O estudante tem que formular uma tese e
argumentar em defesa dessa tese, provando que ela é verdadeira e defensável.
Além de oferecer uma proposta cidadã, uma contribuição”.
O
professor cita como exemplo o tema Publicidade Infantil. Nesse caso, o aluno
deve convencer o leitor da sua tese, podendo sugerir que a prática seja
controlada por fazer mal à criança. “Aí está a diferença da Redação no Enem.
Ela pressupõe conhecimento prévio do assunto. O aluno tem que mostrar esse
preparo, possuir um banco de ideias antes de começar a escrever”,
avalia. Myrson alerta ainda para a necessidade de conexão entre os
parágrafos. “Não adianta escrever cinco microtextos autônomos sobre publicidade
infantil. Um parágrafo tem que ser complementação do outro”.
O
problema maior, de acordo com o professor, é o fato de a tradição
brasileira ser a oral, e não a escrita. “Tem gente que fala bem demais; mas,
quando pedem para escrever, é um ‘Deus nos acuda’. A escola tem que ter
estrutura de revisores, de corretores, para desenvolver a habilidade de escrita
do aluno”, conclui.
TBN CEARÁ